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OS TRABALHADORES SÃO TRATADOS COMO CÃES |
Por vezes, sem que se saiba porquê, nasce em cada um daqueles que viveram Angola, aprenderam a amá-la e a guardar dela aquilo que apenas a língua portuguesa consegue explicar aquele sentimento profundo a que se chama SAUDADE.
Alguns 'patrícios' não devem ter da sua terra uma imagem do que é a luta pela dignidade, pelo trabalho, pela amizade com aqueles que lhe estão próximos, pois encontraram um País com pés para andar, mesmo tendo sobrevivido a uma guerra de independência, pois foi a guerra civil que ditou a calamidade que atingiu Angola. E não se coíbem de falar daquilo que não sabem, acusando os colonizadores de tudo quanto de mau encontraram, porque o Partido assim o determinou e é bom ter alguém para dizer mal, pensarão esses iluminados.
Porque não resisto a chamar as coisas pelo seu nome, aproveito para aproveitar um escrito publicado no jornal PÚBLICO de hoje, referente àquela zona que tantas invejas criou um pouco por todo o mundo: A LUNDA NORTE.
" Como uma ilha sem mar
em redor, o Dundo,
capital da Lunda
Norte, é, de tão
isolado, um lugar esquecido
no mapa.
O que liga a
cidade ao resto da
província e do país
é frágil. E, nas
aldeias, as únicas ligações ao
mundo deste lugar, de onde chegam
frequentes relatos de violência contra
as populações, são os
camiões que passam e a Rádio Nacional
de Angola que é possível sintonizar.
Na
maior parte da Lunda Norte, mais
de cem mil quilómetros quadrados,
não há electricidade e muito
menos ligações telefónicas. As
escolas e os centros de saúde ruíram
com o tempo ou a guerra, que
durou décadas e terminou em
2002. A vegetação e as árvores invadem,
por entre buracos e janelas, fachadas
suspensas sobre pedras
e ruínas de casas sem água, luz
e condições sanitárias mínimas.
Com
a falta de meios, nem sempre é possível
reconstruir, como aconteceu com
muitas casas no Dundo. Os
professores, uma das poucas profissões à margem da quase exclusiva actividade
de extracção e comércio
de diamantes, eram, pelo menos
até há poucos anos, pagos pelo
Estado, mas viviam em casas sem
condições e só desejavam partir.
Se precisam de tratamento médico,
os habitantes da província deslocam-se,
quando podem, a
essa única cidade onde existe um
hospital, também ele em parte destruído.
Ou não procuram sequer assistência.
A
Lunda Norte, no Nordeste de Angola,
é um “fim de mundo”, onde se
desafiam os limites do que é lei
ou natureza. Parou no tempo. O que
é regra lá fora é aqui excepção.
Só
quem lá vive sabe. Só quem, com dificuldades, lá entra, pode imaginar o
imenso fosso que separa a Lunda
Norte do resto de Angola, e mesmo
da Lunda Sul, onde também há
extracção de diamantes, mas a vida
se tornou diferente.
“O
primeiro impacto foi de susto pelo
que encontrei: ouvia falar de
uma terra de muita riqueza e dinheiro,
encontrei uma província muito
pobre, esburacada, sem água,
sem energia, com uma pobreza antropológica
gritante, com problemas tribais
graves, muitas seitas, cruzamento
de interesses, invasão estrangeira
por causa do garimpo dos
diamantes”, descrevia, em Outubro de
2010, numa entrevista ao jornal
espiritano Acção Missionária, o
então bispo do Dundo, José Manuel Imbamba,
com quem o PÚBLICO agora
não conseguiu falar.
Perto
mas longe da Lunda Sul , o
contraste entre as duas Lundas acentuou-se
na última década pela maior
atenção dada pelo poder
central
ao Sul e pelo desempenho da
Catoca, uma exploração a céu aberto
apresentada como o quarto maior
kimberlito — rocha que contém diamantes
— do mundo.
Até
1978, a Lunda era uma única província.
Nesse ano, Agostinho Neto, primeiro
Presidente de Angola, separou
as zonas diamantíferas, o Norte,
do resto da província. Só depois, já
nos anos 1990, a Catoca, que
hoje se assume como modelo a
seguir pelas políticas de responsabilidade social,
ganhou importância.
Colada
à Lunda Sul, a Lunda Norte é
um mundo à parte. Quem a visita, precisa
de um visto especial. O
viajante é quase invariavelmente interrogado
sobre os motivos da deslocação,
antes de partir de Luanda. “Ninguém
entra nas Lundas sem
restrições, tem de ter um documento a
dizer porquê”, conta Shawn Blore,
investigador sobre conflitos
relacionados com diamantes, que
visitou várias vezes a região, ao serviço
de organizações não-governamentais internacionais.
De
Luanda pode viajar-se para as Lundas
por estrada, via Malanje, onde
já é fácil chegar, mas a partir de
onde o caminho se torna difícil, sinuoso,
sujeito a sucessivos controlos policiais.
As badaladas obras em 2012,
a tempo das eleições gerais, alteraram
em pouco o movimento no
aeroporto do Dundo, que ainda só
tem condições para receber pequenos voos."
(continua na próxima oportunidade)
1 comentário:
Boa tarde...
Caros amigos, entrou-me esta ideia na cabeça de escrever um livro, um romance, sobre a vida de um jovem casal em Angola no início dos anos 70. Com forte influência da vida real, dedicado à minha irmã e ao meu cunhado, então furriel piloto da FAP no Negage. É na experiência deles que me inspiro, mas apenas como base para o que pretendo escrever.
Gostava de saber se me podem ajudar a encontrar pessoal que tenha servido na FAP no Ultramar, especialmente em Angola. Se têm sugestões, locais onde possa encontrar contacto, se posso usar o vosso projecto para publicar este apelo... para camaradas que tenham disponibilidade, quer remotamente quer à mesa com uma bebida, para responder a umas perguntas, conversar um bocado, enfim, partilhar para este fim de memórias e experiências.
Obrigado pela atenção,
Ricardo Ribeiro
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